segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

A importância de Lévi-Strauss

A produção de Lévi-Strauss guarda um traço familiar que merece ser reconhecido. Ele provém de uma família constituída de músicos, cuja influencia transparece nitidamente em seu olhar inspirado no modelo das partituras musicais - o gosto pelas sínteses teóricas e pela escrita rigorosa.

A exemplo do que se realiza na música, Lévi-Strauss considerava ser preciso apreender a linguagem da estrutura.

O que é a partitura senão o esqueleto, a estrutura da composição musical?

Extraiu de Karl Marx a ideia de que as realidades manifestas são enganosas e que compete ao estudioso construir modelos para ter acesso aos fundamentos do real como forma de ultrapassar a realidade sensível.

Trazemos aqui a proposição de Marx também para acentuar que a tese estrutural sempre existiu. O método estruturalista já se encontrava em Marx.

A base de formação de Lévi-Strauss se deu na Alemanha. Sob a influência de Franz Boas, percebeu e valorizou a natureza inconsciente dos fenômenos culturais e colocou as leis da linguagem no centro da estrutura inconsciente.

É neste terreno que se situa sua maior inovação, qual seja: transpor o modelo linguístico para o campo da antropologia.

A linguística estrutural foi o modelo de que se serviu e Roman Jakobson, o nome relevante com quem estabeleceu contato. Dessa proximidade, Lévi-Strauss valorizou dois princípios muito importantes: a investigação de invariantes e a preponderância dos fenômenos inconscientes da estrutura.

Com a proibição do incesto, Lévi-Strauss se viu frente ao protótipo da lei - a invariância – que era o que mais perseguia.

Realizou um deslocamento em relação à abordagem tradicional, a qual entendia o fenômeno em termos de interdições morais. Era essa a concepção de Morgan, para quem a proibição do incesto consistia numa proteção da espécie contra os efeitos funestos dos casamentos consanguíneos.

A hipótese de Lévi-Strauss, ao contrário, acentua o caráter de transação presente na proibição dos casamentos consanguíneos, da comunicação que se instaura, para além da mesma tribo, com a aliança do matrimônio.

A proibição do incesto, base da aliança comunal, passou a ser concebida como decisiva no surgimento da ordem social. É neste sentido, inclusive, que se pode dizer que a proibição do incesto consiste na própria cultura.

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