quinta-feira, 16 de setembro de 2010

A magia da produção analítica

Rui estava dominado por uma sensação de atraso. Tinha a urgente necessidade de atualizar a experiência. Como era muito crítico, por vezes se atormentava com o sentimento de que iniciara tardiamente sua análise, assim como tudo o mais, pois demorava muito tempo para se decidir a fazer algo, a assumir um projeto, qualquer que fosse ele.

Sabia que tendia a retardar a conquista das coisas que desejava.

Temia ser surpreendido por um amigo que apresentasse repentinamente uma mudança de rumo; alguém que tivesse um projeto não revelado, o qual seria exposto apenas no momento de ser posto em prática.

Rui se lembrou de uma situação: um amigo muito próximo um dia lhe disse que ia viajar para fora do país, ia estudar no exterior. Quando o amigo lhe revelou a viagem, tudo já estava arranjado. Vinha se preparando para estudar e morar fora do país e nada lhe dissera. Rui não suspeitara que seu amigo tivesse planejando algo, que ele tivesse um plano em plena ação.

E se demorava a enumerar quantas coisas foram arranjadas com o objetivo de concretizar tal projeto, como a decisão de estudar no exterior, a pesquisa sobre lugares, professores, orientadores, a busca e a conquista da bolsa de estudos. Rui se perdia em detalhes, remoendo a deslealdade e a perda do amigo.

A traição se instalara como tema recorrente na fala dele.

Era como se ao redor as pessoas tivessem elaborando projetos às escondidas. Pessoas que agiam como se nada tivesse acontecendo.

Que coisas Rui projetava e amadurecia secretamente, longe da revelação analítica?

Por outro lado, que cartas eu poderia ter sob a manga para surpreendê-lo de uma hora para a outra tão negativamente?

Rondávamos ainda a questão da confiança? Ah, essa taça de cristal...

Creio que estávamos mais adiante. Já fertilizado, o solo transferencial em que delicadamente pisávamos guardava vasta extensão indizível, onde algo secretamente era cultivado, produzido, elaborado, inventado.

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