segunda-feira, 5 de abril de 2010

Tabu e poder

Há no tabu uma tensão ambivalente que torna especial o contato, a aproximação com ele. As formações culturais fundamentam-se em sentimentos que envolvem ao mesmo tempo impulsos egoístas e eróticos, de afirmação e de disputa de poder.
A instituição do tabu e os ritos de reparação que o acompanham são peças de um jogo onde se estruturam as complexas relações que se movem no âmbito social.
O tabu protege o que na ordem social parece inefável e que adquire expressão através das interdições, das restrições impostas pela cultura.
Contradição e poder coabitam o mesmo espaço na cultura. O tabu resguarda o lugar do poder, reveste-o de magia, torna-o sacro e, assim, naturaliza-o. Forma eficaz de mistificar e camuflar sua abrangência ideológica e política.
No limiar desse jogo o poder garante sua potência: força que advém do inapreensível. Advertido sobre a natureza impura do sagrado, o homem se apercebe dos perigos envoltos nas tentativas de proximidade física que se dão numa zona onde nada é dado como certo.
Por isso o homem tateia o contato com cuidadosas reverências e produz rituais para realizar essa aproximação. Mas se o poder envolve riscos e perigos, é melhor se afastar dele e manter uma distância respeitosa. Eis o véu de mistério do sagrado.
O que é poder senão a expressão e o uso de uma força de algum modo autorizada pelo coletivo?
Entendido como um dispositivo de controle cultural, quando observamos a aparição de um tabu notamos que esta se dá por meio da crença supersticiosa na histórica contada, no causo, na lenda carregada de magnetismo lingüístico que recobre o tabu de poder mítico.

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