quarta-feira, 19 de agosto de 2009

O lugar do psicólogo na Justiça

O psicólogo ocupa um incômodo lugar na justiça: um estrangeiro convidado a intervir nas modalidades de censura.
Todavia essa diferença, a de ser um estranho nesse campo, pode abrir sua visão sobre a mitologia da submissão, de modo a desvendar seus engenhos e sua dramaturgia dogmática.
A meta profissional, que considero válida, é produzir uma possibilidade de lugar fora do âmbito puramente dogmático e burocrático da glosa judiciária, para manter acesa a chama da reflexão sobre questões fundamentais à existência humana como dignidade e liberdade.
Questões que precisam ser constantemente ativadas no embate diário com a prática.
Porque se o psicólogo não interrogar e problematizar sua tarefa na Justiça, não conseguirá se deslocar do lugar que a instituição lhe destina: o de referendar cientificamente a doutrina da norma, o de transmitir a tradição da disciplina.
Cabe ao psicólogo delimitar seu lugar na instituição judiciária, tanto em função da demanda do instituído, quanto em função de pesquisas técnicas, avanços teóricos e estudos éticos sobre a aproximação da psicologia e do direito, sobre a função que o psicólogo realiza no interior deste tipo de instituição.
E resguardado no patamar da autonomia técnica que sua especialização lhe confere, o psicólogo poderá visualizar o seu lugar.
Lugar que precisa ser ocupado por uma equipe de profissionais capaz de preservar distanciamento em relação ao rigor dogmático, para poder discernir e desvelar sua liturgia mítica, para não ser apenas consumida pelo cotidiano imediatista e automático da repetição burocrática.
Essa equipe, que se forma no interior da instituição pública, precisa pensar em que essa característica torna peculiar sua intervenção. Lembrando sempre que o respeito às crenças teóricas individuais dos colegas não inviabiliza que se possa conceber procedimentos comuns visando produzir um genuíno campo de investigação especializado.

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