segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

A generalização do termo acting out

Nos anos trinta, acting out era usado como um conceito técnico para expressar uma forma de resistência ao tratamento psicanalítico, para caracterizar a atuação de pacientes neuróticos em resposta às pressões da análise.
A operação analítica consistia em manter dentro do âmbito psíquico o que se derivava da ação motora. Via-se como necessário manter um campo de invariantes para dar direção à cura.
Desse tipo de concepção, destaca-se a influência da psicanálise argentina, cujo expoente máximo se encontra na contribuição de Bleger sobre o enquadre psicanalítico.
Para Bleger, o trabalho psicanalítico consiste em criar um enquadre firme e estável, que evite a contaminação do analista pela regressão transferencial do analisando.
Assim, o enquadre permite mapear o acting out, como a figura que se destaca do fundo. Figura que transgride a ordem do enquadre.
O acting out era visto então como um obstáculo, uma manifestação da resistência, através de comportamentos indesejáveis seja para o analisando seja para o rumo da análise, e colocava em foco problemas do processo psicanalítico.
Daí para aplicar-se o termo a qualquer comportamento indesejável do ponto de vista moral e social foi um pequeno passo.
A ampliação do conceito teve forte presença na literatura da década de sessenta. Época em que mais se dilatou seu sentido. O termo passou a caracterizar a conduta delinqüente, diversos tipos de patologias, ações impulsivas, anti-sociais e perigosas. Pouco se prestava atenção aos contextos em que tais ações surgiam.
Essa grande variedade de usos tinha como elo a idéia do motivo inconsciente ser o deflagrador da ação.
Fenichel é considerado um dos maiores responsáveis pela ampliação do conceito. Ele relacionou o fenômeno do acting out tanto ao âmbito do tratamento analítico, quanto aos aspectos patológicos da personalidade que predispõem o indivíduo a tendências impulsivas.
Fenichel acha que algumas pessoas mostram maior predisposição em exprimir seus impulsos inconscientes na ação do que outras.
O peculiar de tal formulação foi dotar de particularidade o caráter de certos indivíduos caracterizados como tendenciosamente impulsivos. O que leva a se enfatizar mais os aspectos individuais da personalidade do que o contexto em que se verifica a ocorrência de tais comportamentos impulsivos.
A literatura pós-setenta apresenta uma reação que se opõe à generalidade na aplicação do termo, à idéia de que designa algo indesejável.
Desde então passou-se a valorizar o acting out como fonte de informação valiosa, como fenômeno que permite o acesso a uma forma especial de comunicação, como canal que expressa o surgimento de material novo no processo analítico.

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