sexta-feira, 14 de novembro de 2008

O policial é o mestre de seu saber

Senhor de uma saber e uma técnica que domina na rua, transformada esta em laboratório, o policial despreza a palavra do mestre. Ele é o mestre de seu saber. Mestria constituída na chama do aqui e agora; saber tateado no enfrentamento que as circunstâncias o obrigam a desenvolver e consolidar como válidos.
Seu saber não comporta a teoria, e é compartilhado apenas com seus pares. Dessa mestria advém a aparente autoconfiança expressa no olhar de autoridade, onde brilha a certeza de quem sabe que sabe.
A teoria é rechaçada com vigor e a academia de polícia é vista como uma fraqueza da corporação. Talvez aí esteja a maior dificuldade de se introduzir qualquer mudança significativa na formação do policial, uma vez que ele teve de se desprender da teoria.
Do relato de uma mulher policial que nos conta sua experiência, extraímos uma mensagem; semente que merece ser cultivada. Ela diz:
“Eu entendo que esse tipo Rambo, que bate, esfola e arrebenta, isso é um estereótipo, uma estética que está sendo superada, dando lugar a esse policial que hoje é mais bem preparado tecnicamente, ou seja, o fazer uma investigação requer um conhecimento técnico de várias áreas. E se você consegue, isso suplanta a questão da força. Você vê pelo meu biotipo que eu não sou uma pessoa forte, mas eu tenho condições de quando chegar a colocar a mão, eu sei exatamente a dimensão do que eu to fazendo. É para não esboçar uma reação. Eu vou pegar no momento certo, na hora certa, com a condição certa”.
Quando a jovem policial me conta como procede no ato de prender uma pessoa, ela reflete sobre sua fragilidade comparada ao porte viril dos rapazes policiais, e sobre seu ardil para ultrapassar a limitação que seu corpo feminino lhe impõe no embate que trava para vencer as dificuldades do momento ativo quando em operação.
Sua estratégia estimula e valoriza outros atributos que não envolvem a força bruta. Vemos então como a sensibilidade feminina pode abrir um trajeto, favorecendo o salto necessário para superar a truculência masculina que se atualiza no comportamento do policial.

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