sexta-feira, 7 de novembro de 2008

O crescimento do Rio de Janeiro

No esboço da história do Rio, desde sua fundação no século XVI, vislumbramos as transformações pelas quais a cidade passou. Primeiro, tornou-se o centro administrativo da colônia portuguesa em 1763.
A chegada da família real em 1808 acelerou seu processo de transformação política e administrativa. O Rio conquistou significativo progresso urbano: multiplicou suas repartições públicas, enriqueceu e se desenvolveu culturalmente.
Em meados do século XIX, o número de pobres livres que vivia na cidade se multiplicara significativamente. Essa população, numerosa e empobrecida, aos poucos se tornara um desafio para a elite política que precisava tratar as conseqüências trazidas pelo crescimento desordenado do Rio.
Aqueles que dispunham de recursos financeiros desejavam usá-los como bem entendessem. Não queriam um estado absolutista que limitasse suas oportunidades, mas também ansiavam por um espaço social em que não se sentissem molestados ou ameaçados.
Motivos esses que levaram à criação de uma forma de governo liberal, voltado para proteger essa classe favorecida, que manteve as rédeas do controle sobre os pobres livres através do clientelismo e da exclusão.
Numa economia em que o grosso da produção era feito pelo trabalho escravo, os pobres livres, na maioria desqualificados, quando não analfabetos, podiam colocar à disposição seus serviços, comercializar pequenas mercadorias nas ruas, vender artefatos produzidos em pequenas oficinas domésticas, ou, mendigavam, roubavam e passavam fome.
Na forma como se organizara o ambiente urbano, uma grande maioria tinha pouco ou nada a perder. Restava a possibilidade de lutar por reconhecimento, por apadrinhamento, ou, sucumbir à exclusão e à privação.
Esse estado liberal não se preocupou, a exemplo do liberalismo europeu, em ordenar um sistema que pudesse respaldar direitos sociais a essa maioria que vivia à margem da vida civil.
Como Distrito Federal, a partir da proclamação da República em 1889, o orçamento da cidade passou a estar vinculado aos recursos da União. Isto permitiu ao Rio experimentar diversas reformas urbanísticas modernizadoras.
O Rio cresceu como uma cidade de serviços, abrigando órgãos estatais, o centro financeiro e comercial, concentrando o principal pólo de lazer e cultura do país.
Concentrou a maior parte do capital interno e mantinha um porto super movimentado. Por suas ruas transitavam autoridades, figuras de projeção nacional, além de personalidades estrangeiras.
O constante crescimento demográfico do Rio sempre exigiu alternativas para seu desenvolvimento. Como expandir uma cidade cujo espaço era limitado pelas montanhas, pelo mar e pelos mangues?
Uma vez estrangulado o espaço urbano do centro, os ricos buscaram refúgio em locais mais distantes, como o Rio Comprido, a Tijuca e Botafogo, deixando suas antigas moradias no centro da cidade, logo transformadas em cortiços ocupados pela população pobre de migrantes e imigrantes que se instalaram na cidade em busca de novas oportunidades.
Essa população, deixada ao léu, aprendeu a se virar através de mecanismos de resistência que eram a sua forma de sobreviver e viver.
A repressão do estado se voltava contra os pobres de modo ostensivo e preventivo. A coerção física vigorava como técnica para manter o comportamento da massa dentro de certos limites aceitáveis.
Mesmo quando o açoite não era mais tolerado, a polícia manteve a tradição de espancar o indivíduo no ato de aprisionamento, como uma tarefa natural de seu papel disciplinador da plebe.
Atos brutais e grotescos cometidos pela polícia de hoje são resíduos dessa ação repressora que atravessou as gerações, o tempo e as transformações, sobrevivendo de modo germinal nas relações antagônicas entre a polícia e o povo.

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