quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Pulsão de morte

A formulação sobre a pulsão de morte tem origem no exame que Freud realiza sobre o par de pulsões componentes sado-masoquismo, tal como ele o enuncia no capítulo VI do texto Além do princípio de prazer, ao discutir sobre a existência do sadismo e do masoquismo primários.
Em O ego e o id, Freud apresenta a hipótese da pulsão de morte como responsável por conduzir a vida ao estado inanimado, e interroga neste momento o funcionamento dualístico que envolve a fusão e desfusão das pulsões, processo sobre o qual falará em O problema econômico do masoquismo.
Para Freud as pulsões de vida e de morte – Eros e Thânatos – estão sempre misturadas; seguem o curso de seu circuito fusionadas, amalgamadas uma a outra, em proporções variáveis. Jamais se pode pensar em pulsões puras seja de vida ou de morte. Mas, sob o efeito de determinadas influências, pode ocorrer a desfusão delas. E é justamente nesse momento, sob o efeito dessa desfusão, que episódios patológicos inesperados podem ocorrer.
A concepção freudiana sobre as pulsões adquire novo registro em O mal-estar na cultura, texto em que Freud apresenta o amadurecimento de suas idéias sobre a autonomia destrutiva da pulsão de morte, agora não mais entendida como originada da sexualidade. Ele nos diz:
“(...) Sei que no sadismo e no masoquismo sempre vimos diante de nós manifestações da pulsão destrutiva (dirigidas para fora e para dentro), fortemente mescladas de erotismo, mas não posso mais entender como foi que pudemos ter desprezado a ubiqüidade da agressividade e da destrutividade não eróticas e falhado em conceder-lhe o devido lugar em nossa interpretação da vida (...) adoto, portanto, o ponto de vista de que a inclinação para a agressão constitui, no homem, uma disposição pulsional original e auto-subsistente (...)”
Como vontade de destruição, a pulsão de morte incita a disjunção das unidades, pois que encarna o desejo de Outra-coisa. Explicitada por Lacan, a irrupção da pulsão de morte nos leva à ruptura de certa continuidade. Ela coloca em causa tudo o que existe. E, como tal, também expressa a vontade de criação a partir do nada. A vontade de recomeçar.

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