segunda-feira, 30 de junho de 2008

A repetição impossível

No texto Três ensaios sobre a teoria da sexualidade, Freud desperta nossa atenção para a ambivalência implicada nas relações fundamentais, donde a reciprocidade – o fato do outro fazer-se de objeto para o eu, e do eu fazer-se de objeto para o outro – é da ordem constitutiva.
Quanto à descoberta do objeto, Freud a relaciona à noção de realidade, uma vez que é fruto da fronteirização entre eu e não eu. Descoberta implicada em sua perda, dado que o reconhecimento do objeto e, portanto, da realidade, advém como conquista compensatória, efeito da elaboração da perda do objeto.
O objeto é apreendido na busca de um objeto perdido. Os encontros ulteriores com os objetos possíveis comportam em seu íntimo a aliança de um reencontro. Atualiza-se nesses encontros o ponto de ligação com as primeiras satisfações infantis.
Encontro que se firma no descompasso de um reencontro com esse objeto perdido na linha remota do tempo. Lacan qualifica essa relação como insígnia de uma repetição impossível. Em suas palavras:
(...) Uma nostalgia liga o sujeito ao objeto perdido, através da qual se exerce todo o esforço da busca. Ela marca a redescoberta do signo de uma repetição impossível, já que, precisamente este não é o mesmo objeto, não poderia sê-lo. A primazia dessa dialética coloca no centro da relação sujeito-objeto, uma tensão fundamental, que faz com que o que é procurado não seja procurado da mesma forma que o que será encontrado (Lacan, 1995, p. 13).

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