terça-feira, 24 de junho de 2008

O sentido mítico da busca do objeto

Na terceira parte dos Três ensaios sobre a teoria da sexualidade, Freud aborda a questão do objeto, focalizando o processo psíquico de encontrar um objeto, que ocorre na puberdade. Sobre a possibilidade desse encontro Freud nos diz:
O encontro de um objeto é na realidade, um reencontro dele.
Mantida sob o escuro véu do desconhecido, a origem da sexualidade, como origem da vida, (...) faz remontar a origem de uma pulsão a uma necessidade de restaurar um estado anterior de coisas.
Freud inaugura seu debate sobre o objeto sexual tecendo comentários sobre o mito segundo o qual o ser uno dividiu-se em uma metade, homem; e outra metade, mulher. E, agora, essas duas metades buscam eternamente a união através do amor.
A palavra grega Eros provém do verbo érasthai, que significa estar inflamado de amor. Stricto sensu, diz respeito ao desejo incoercível dos sentidos. Na poesia mítica da Grécia antiga, em Hesíodo, memória da mais remota teogonia, Eros personifica a força fundamental do mundo, a coesão interna do cosmo, a garantia de continuidade das espécies.
Eros encarna o desejo irresistível de acasalamento que preside todos os seres. Eros nasce do Kháos, o qual personifica a profundidade insondável do vazio primordial, que antecede a toda criação, aos elementos responsáveis pela ordem universal. No Banquete, de Platão, Eros é o elo que une o todo a si mesmo e, assim, preenche o vazio.
Após o banquete em que se festejava o nascimento de Afrodite, em pleno jardim dos deuses, Eros foi concebido. Nasceu da união singular entre Póros (Expediente) e Penia (Pobreza). Graças a esse acasalamento tão diferente, Eros possui características definidas ao mesmo tempo que significativas. Como Pobreza ou Carência, está sempre em busca de seu objeto. Todavia, como Expediente, sabe bem como arquitetar um plano para atingir seu objetivo: a plenitude. Por isto, longe de ser um deus todo-poderoso, Eros se traduz como uma força, uma enérgueia, uma energia. E por conta dessa sua natureza díspar, Eros é perpetuamente insatisfeito e inquieto. Uma carência sempre em busca de plenitude; um sujeito em busca do objeto.

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