sexta-feira, 6 de junho de 2008

O mundo globalizado

As rápidas modificações tecnológicas e a explosão globalizada das identidades e dos bens de consumo tornaram tênues as fronteiras do nacional em contraste com o exterior. Trata-se aqui das fronteiras entre o que hoje se considera alheio em diferença opositiva ao que se considera próprio.
Quais parâmetros guiam nossa percepção na identificação daquilo que nos diferencia dos demais?
Antes, podia-se diferenciar uma nação por seu enraizamento territorial e por sua inclinação industrial, o que lhe dotava de certa hegemonia a ser preservada como valor de propriedade e de distinção. Atualmente esses limites são configurados pelo poder de consumo, por aquilo que se possui ou que se pode chegar a possuir.
Fala-se hoje da cultura como um processo de montagem multinacional, em que se identificam traços diversificados que podem ser traduzidos por qualquer pessoa. O antropólogo Néstor Canclini, que estuda a realidade da América Latina comparando-a com as peculiaridades do primeiro mundo, nos brinda com o seguinte exemplo: hoje, “compramos um carro Ford, montado na Espanha, com vidros feitos no Canadá, carburador italiano, radiador austríaco, cilindros e bateria ingleses e eixo de transmissão francês”.
Canclini admite que a globalização se tornou um processo irreversível que atesta a racionalidade econômica dos nossos dias, mas defende a idéia de que o global não substitui o local, e considera que o modelo neoliberal não pode ser encarado como a única opção disponível no mundo.
As discussões de Clanclini nos reaproximam das teses marxistas. Ele chama a atenção, por exemplo, para problemas que envolvem a participação dos trabalhadores nas decisões empresariais e sindicais. Não dá para negar que, aumentadas enormemente as distancias espaciais entre as partes envolvidas nas negociações sindicais, e desconhecido o ponto central de onde partem as decisões da direção empresarial, as negociações tornaram-se quase impossíveis de serem realizadas.
Quando pensamos no processo alienante da sociedade de consumo, sutil, civilizado, e por isto mesmo mais complexo e eficiente, nos perguntamos como é possível escapar à sedução, aos apelos enganosos de um capitalismo muito mais maleável do que pôde supor seu principal crítico, Karl Marx.

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