quarta-feira, 28 de maio de 2008

Sociedade de consumo

Nunca antes na história do ocidente assistimos como hoje o rápido aparecimento e desaparecimento dos objetos. O entrelaçamento entre consumo e alienação é tão flagrante nesta sociedade em que impera o excesso, que somos levados a interrogar sobre os efeitos de tal intima relação. Como numa grandiosa festa, a mercadoria se transforma na imagem do dom que não se esgota. Espera-se que exista em demasia de modo a abarcar todas as necessidades de todos. Isto nos dota de longevidade, possibilitando-nos relativo sentimento de imortalidade, que se faz acompanhar da ilusão de possuirmos ilimitado controle sobre o mundo.
Ao refletir sobre a sociedade de consumo, Jean Baudrillard se utiliza do mito da Medusa para nos confrontar com a ambição de poder do homem. Freud também se utilizou desta figura mitológica da cabeça decapitada da Medusa, com os cabelos sob a forma de serpentes, para falar da castração. O simples ato de olhar a cabeça da Medusa provoca a transformação em pedra naquele que a confronta, decorrente do enrijecimento provocado pelo horror que esta visão é capaz de evocar. As serpentes, ainda que assustadoras, suavizam o terror, pois que representam o pênis, cuja falta é que provoca horror. O terror provocado pela cabeça da Medusa é um terror de castração: decapitar = castrar.
A proliferação de símbolos fálicos na cabeça da Medusa mantém ligação com a castração porque nos remete à idéia de presença-ausência - presença do pênis na mãe - como formação de uma unidade amalgamada que a noção de fetiche nos faz entrever. O fetiche tem a função de véu que se interpõe à falta, relaciona-se com o proibido na medida em que através dele tudo se pode fazer: negar o interdito inscrito na proliferação. O objeto fetiche permite ao fetichista por momentos precisos preencher a ausência de pênis na mulher. Na medida em que ludibria seu horror em relação à castração na mulher, também entorpece seu próprio temor quanto à ameaça de castração.
A mercadoria mantém com o fetiche estreita relação. Ela permite ao homem contemporâneo sonhar com a possibilidade de satisfazer-se plenamente e sentir-se como o fetichista, capaz de ludibriar a interdição.
Diante de um olhar passivo e conivente do indivíduo, os objetos se proliferam numa movimentação incessante e insaciável. No êxtase de uma passividade contagiante, os homens abandonam a convivência uns com os outros para permanecer mais ligados aos objetos que os rodeiam. À mercê do ritmo imposto pela frenética sucessão de objetos, deixam-se tornar mais funcionais que propriamente humanos.

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